sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Breath

Hoje a tentação de dar mais um passo foi grande.
pela primeira vez não tive medo.
a vontade era de simplesmente pesar um pouco mais o corpo pra frente e senti-lo no ar.
queria ouvir o barulho. do ar. do chão. dos ossos. da chuva. da música. da dor.
eu me senti estranha. me senti viva quando estava prestes a dar o passo.
(há quanto tempo eu não tinha mais essa sensação?)



.pausa.



braços e mão machucados, mas tudo no lugar.
Ainda não foi dessa vez.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

perdeu a noção do tempo.
perdeu a noção do clima.
já não sabia mais que dia era.
e também já não fazia mais diferença.
seu coração havia parado de bater há dias.
já não sabia quem era.
haviam lhe roubado a identidade.
a sanidade.
já não sabia o que fazer com essa massa disforme que chamavam de corpo nesse lugar apático que chamavam de mundo tentando lidar com essa ausência que chamavam de vida.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

você cansou de contar as mesmas histórias

e de repente sobra um espaço.

Não há a possibilidade de preenchê-lo. Com nada. Com ninguém.

Eu tento ocupá-lo com músicas mentiras pessoas alcool tioridazina sapatos mentiras Citrato de Orfenadrina Dipirona mentiras Cafeína encontros cores camomila cicatrizes cobertores lágrimas cicatrizes mentiras. Dor. Vazio.

Não se enche a ausência com coisas vazias. É inútil.

Eu sinto frio.

Eu tenho medo.

Eu perdi o interesse em outras pessoas

Eu não consigo tomar decisões

nem mesmo meu corpo colabora comigo.

Eu não consigo comer

Eu não consigo dormir

Eu não consigo pensar

Eu não consigo ir além da minha solidão, do meu medo, do meu desgosto

Eu não consigo escrever

Eu não consigo amar


você tirou tudo isso de mim então não pode dizer que se importa.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Lily Everit

Lily Everit quase chegou a rezar para que não viessem incomodá-la.
Ela sentiu a mais estranha mistura de excitação e medo, do desejo de ser deixada sozinha com o anseio de que a tirassem de lá para ser lançada ao fundo escaldantes dos abismos.
Olhando em volta, Lily Everit instintivamente escondeu seu ensaio sobre o Deao Swift, de tão envergonhada que estava agora, e também tão confusa, e na ponta dos pés não obstante para ajustar seu foco e manter as devidas proporções aquelas coisas em constante diminuição e expansão (como chamá-las? -- de pessoas, de impressões das vidas das pessoas?) que pareciam ameaçá-la e sobrepor-se a ela, transformando tudo em água, deixando- lhe apenas o poder de estar acuada.

Estava a ponto de despedaçar-se, sentia uma terrível agonia.

Dela era a inclinação a correr, a meditar em longos passeios solitários, pulando portões, pisando na lama, atravessar a nevoa, ir a lugares onde não ligavam a mínima para o que os seres humanos pensavam a seu respeito e lhe enchiam o espírito de entusiasmo e espanto e a mantinha por La.

Tudo isso até essa noite era o comum em sua vida.

Está é a vida que gostaríamos de levar.

Fosse como fosse, ela nem precisaria pensar.

Ela se satisfez ao dar-se conta de que o mundo estava cheio de coisas sólidas que em nada dependiam de sua vida.