quarta-feira, 31 de março de 2010

segunda-feira, 29 de março de 2010

Da necessidade de lembrar.



Durante toda nossa vida nos apegamos a lembranças. Cheiros, cores, papéis, músicas. O fato é que construímos nossas vidas em cima dessas memórias, nossa identidade é criada a partir delas. Repetimos incontavelmente as mesmas historias [e sempre um pouco diferente do que aconteceram realmente]. Temos uma necessidade física de lembranças, prova disso são as cartas que você trocava com seus amigos do colégio que você ainda guarda junto com as fotografias que ocupam aquela caixa empoeirada no armário ou alguns gigas de memória em seu computador. Até as máquinas possuem memória, porque caso você esqueça, suas lembranças estão ali [naquela memória artificial], para te fazer lembrar, para fazer questão de não te deixar esquecer. Mas lembrar o quê? Lembrar por quê? Por que necessitamos tanto dessas lembranças? Por que se faz tão necessário essa memória, sempre manipulada, mesmo que inconscientemente? Se o passado não volta, se aquilo já aconteceu e o que nos importa é o momento atual? Lembramos para saber quem somos, para ter certeza que estamos vivos e que temos uma história. Lembramos porque temos cicatrizes que não nos deixam esquecer. Somos feitos desses fragmentos do passado que insistem em se fazer presentes. E que insistimos em manter vivos.
Mas não se engane, a memória é um bicho traiçoeiro, que te faz lembrar das coisas como você quer, te faz guardar as coisas de um jeito bonito [por mais doloroso que seja], e depois, vai lentamente borrando os fatos. Como uma folha de papel que aos poucos vai amarelando, suas lembranças ficam cada vez mais fracas com o passar do tempo. E em breve, você esquecerá tudo o que achou que lembraria para sempre. O que você é sem suas lembranças?



*Imagem mais clichê, impossível. Do filme Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças.